
Durante seis meses, Elizabeth Regina Villela Ferreira, 66 anos, moradora de Presidente Prudente conviveu com dores insistentes na coluna cervical. A empresária chegou a realizar diversos exames que não trouxeram nenhuma resposta ao mistério, até que uma tomografia revelou o inimigo oculto: um tumor maligno de 10 centímetros. Após nove meses de tratamento, os novos exames trouxeram a boa notícia: remissão total do câncer.
Elizabeth Regina conta que tudo começou quando passou a sentir fortes dores nas costas, há pouco mais de um ano. Cansada do incômodo, procurou especialistas e realizou diversos exames.
“Fiz infiltração no ombro, melhorei um pouco, mas o pescoço continuava doendo. Era uma dor forte, que não passava de jeito nenhum”, lembra. A princípio, o desconforto foi atribuído a um problema no manguito rotador (músculos e tendões que envolvem a articulação do ombro). As ressonâncias e consultas apontavam apenas alterações leves na coluna cervical, mas nada que justificasse tanto incômodo.
Com o passar dos meses, outros sintomas como rouquidão, cansaço e falta de disposição também começaram a aparecer. A pista para descobrir o real responsável pelas dores foi dada pelo ortopedista da família, que sugeriu investigar possíveis causas respiratórias, já que Elizabeth tinha episódios frequentes de espirros fortes.
A empresária procurou uma alergista em São Paulo, que solicitou uma tomografia de tórax para verificar uma possível bronquite. O exame revelou um tumor de aproximadamente 10 centímetros no mediastino, região próxima ao pulmão. “Foi um choque. Eu não tenho histórico de câncer na família, tinha parado de fumar dois anos antes. Jamais imaginei que pudesse ser isso.”
Apesar do choque, Elizabeth conta que sempre foi uma pessoa otimista e não se deixou abalar facilmente diante do diagnóstico. “Eu perguntei ao médico: tem cura? Ele disse: tem tratamento. Então eu respondi: Se tiver que ficar de ponta cabeça, eu fico.”
Tratamento
O tratamento intenso durou oito meses e aconteceu em São Paulo, no hospital Sírio-Libanês. As primeiras sessões foram de quimioterapia combinada com imunoterapia. Surpreendentemente, em apenas 40 dias, o tumor foi reduzido de 10 para 3,5 centímetros.
Uma cirurgia robótica foi tentada, mas precisou ser interrompida devido à proximidade do carcinoma com vasos sanguíneos e nervos importantes. “Os médicos optaram por preservar o pulmão, que estava saudável”, destacou Elizabeth.
A segunda parte do procedimento foi a radioterapia: 30 sessões diárias. A empresária lembra que essa foi uma das partes mais difíceis do tratamento: “Era cansativo ir todos os dias ao hospital, mas eu ia com a certeza de que estava fazendo o que precisava ser feito.” O tratamento completo durou nove meses, o mesmo tempo de uma gestação, como a própria comparou.
O diagnóstico tão esperado veio no dia 29 de janeiro, seis meses após o início do tratamento. “Foi rápido, mas muito intenso. Quando vi, já estávamos em janeiro e os exames mostravam que não havia mais nada. Depois de três resultados limpos, os médicos confirmaram remissão total. Hoje, Elizabeth segue com sessões preventivas de imunoterapia e acompanhamento regular. “Mesmo com a boa resposta, é preciso manter a vigilância”, afirma.
Apoio, fé e propósito
Durante todo o processo, ela contou com a presença constante do esposo, Mário Eduardo Ferreira Júnior (73), com quem é casada há 47 anos, e dos filhos que moram na capital paulista. Elizabeth conta que ficou surpresa com o apoio incondicional de seu marido, que é agricultor e pecuarista.
“Ele deixou o trabalho na fazenda para ficar comigo em São Paulo. Passamos nosso aniversário de casamento juntos no hospital. Estar perto dos médicos e da família fez toda a diferença.”
Para ela, além do trabalho extraordinário dos médicos, a fé também foi essencial. Devota de Santa Teresinha desde a adolescência, Elizabeth recebeu durante o tratamento dezenas de rosas, símbolo da santa. Quando recebeu o resultado da remissão, Elizabeth viajou para a Europa para cumprir sua promessa com a santa: “Desidratei todas e levei para a França como forma de agradecer pela minha cura.”
Com a saúde restabelecida, Elizabeth retomou sua rotina com ainda mais vontade de viver. “Hoje não deixo nada para depois. Quero viajar, aproveitar minha família e celebrar cada momento.” Ela resume sua lição de vida em uma frase simples: “Nem a tristeza nem a alegria duram para sempre. Tudo passa. A gente só precisa ter paciência e acreditar.”
O oncologista Guilherme Harada, coordenador da Pesquisa Clínica em Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, explica que o tabagismo é responsável por aproximadamente 85% dos casos. No entanto, fatores como poluição, exposição a agentes tóxicos e uso de cigarros eletrônicos também contribuem. “O câncer de pulmão em não fumantes é uma realidade que precisa ser cada vez mais estudada e debatida”, ressalta.
Entre os sintomas que merecem atenção estão tosse persistente, dor no peito, falta de ar, rouquidão, tosse com sangue e perda de peso sem explicação. “Quanto mais cedo o diagnóstico, maiores são as chances de sucesso no tratamento”, destaca Harada.
Hoje, exames moleculares permitem identificar alterações genéticas específicas e escolher terapias personalizadas, aumentando as chances de resposta. “O caso da Elizabeth mostra como ciência, acesso rápido ao tratamento e apoio emocional podem transformar o desfecho da doença”, concluiu o especialista.
Fonte: Correio Brasiliense