Uma estátua inaugurada no último domingo (26) na cidade de Sapri, no sul da Itália, vem gerando debates sobre machismo no país. A escultura de bronze retrata uma mulher com roupas coladas ao corpo e um dos braços sobre os seios nus. Políticas mulheres e integrantes de movimentos feministas reivindicam a remoção da obra, acusada de hiperssexualização.
A estátua foi construída em homenagem à personagem que protagoniza o poema “La Spigolatrice di Sapri” (“A Respigadora de Sapri”, em tradução livre), escrito por Luigi Mercantini em 1857. O texto conta a história de uma respigadora — alguém que coleta grãos deixados nos campos pelos colhedores — que deixou seu emprego para se juntar à revolta liderada por Carlo Pisacane contra o Reino de Nápoles.
Contudo, o modo como a personagem, considerada uma revolucionária, é retratada no monumento foi tido como ofensivo por mulheres da cena política italiana.
“Como as instituições podem aceitar a representação das mulheres como um corpo sexualizado? O chauvinismo masculino é um dos males da Itália”, escreveu a deputada Laura Boldrini, do Partido Democrata de centro-esquerda, em sua conta no Twitter. “É uma ofensa às mulheres e à história que ela deveria celebrar”, acrescentou.
Um grupo de mulheres do Partido Democrata da cidade de Palermo, na região da Sicília, reivindicou a demolição da obra.
“Mais uma vez, temos que sofrer a humilhação de nos ver representadas sob a forma de um corpo sexualizado, sem alma e sem qualquer conexão com as questões sociais e políticas da história”, escreveu o coletivo, em nota.
Monica Cirinnà, senadora do mesmo partido, definiu a escultura como “um tapa na cara da história e das mulheres que ainda são apenas corpos sexualizados” em suas redes sociais. “Esta estátua da respigadora nada diz sobre a autodeterminação da mulher que optou por não ir trabalhar para se levantar contra o opressor”, acrescentou ela, no Twitter.
O prefeito de Sapri, Antonio Gentile, manifestou-se sobre a polêmica em sua conta do Facebook. O chefe do Executivo da cidade disse que a obra foi “feita com habilidade e interpretação impecável” e que a cidade “não está disposta a questionar seus valores, princípios e tradições”.
Já o autor da estátua, o artista plástico Emanuele Stifano, disse sentir-se “chocado e desanimado” com as críticas. No Facebook, ele justificou que, em suas obras, “sempre tende a cobrir o mínimo possível o corpo humano” e que essa, em especial, pretendia “representar um ideal de mulher, evocar o seu orgulho, o despertar de uma consciência”.