Brasil tem um estupro marital a cada 40 minutos: “Me calava com travesseiro”

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Abuso sexual pode acontecer de uma pessoa muito próxima da mulher: o próprio marido.

Segundo pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a cada 40 minutos há um caso de estupro marital no país. “Meu ex-marido forçava tanto que eu acordava sangrando”, diz a autônoma Juliana Rizo, 34, que foi vítima de violência sexual praticada pelo companheiro enquanto estava dopada com antidepressivos —os episódios foram filmados por câmeras de segurança, e ele foi preso. “Ele colocava um travesseiro no meu rosto para eu não gritar”, diz.

Juliana conta que, no começo do relacionamento, era “tudo perfeito”, pois estava na fase da conquista. Durou um ano. O comportamento do ex mudou após ela engravidar. “Passei a sofrer agressões verbais, físicas e psicológicas”, diz.

Além da situação abusiva com o companheiro, a qual ela não tinha forças para deixar, Juliana também perdeu a mãe. Foi quando começou a ter sintomas de depressão. Na época, o companheiro a levou em sua psiquiatra para que ela tivesse ajuda. “Comecei a tomar medicamento e ficava dopada. Foi aí que começaram os estupros. Não tinha noção, ele me arrastava pela cama. Cheguei a acordar com dor e sangue”, disse Juliana.

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Filmagens de câmeras de segunça mostravam estupros Ela conta que o ex havia instalado câmeras de segurança no quarto do casal para monitorar o comportamento da filha dele. “Eu tinha acesso às imagens no meu celular”, diz Juliana. “Um dia, voltei as filamgens da noite anterior e vi o que tinha acontecido. Comecei a pegar nojo dele como homem, mas ele não me permitia trabalhar, controlava tudo. Me agredia fisicamente. Eu não podia nem ter opinião própria que era agredida e ofendida.”.

Dois anos depois do início do tratamento da depressão, Juliana sentiu que estava melhorando. Foi quando decidiu fugir com os filhos só com a roupa do corpo. Como ainda se sentia ameaçada, arrumou forças para ir a delegacia fazer um boletim de ocorrência —algo que não teve coragem de fazer antes. “Relatei para a delegada que eu sofria estupro, que tinha até imagens, mas que achava que o crime tinha prescrevido. Ela me disse que não”, conta. O agressor está preso. Hoje, Juliana é ativista pelos direitos das mulheres.

Um relato parecido foi feito por Jullyene Lins, 48, a Universa. A ex-mulher do deputado federal Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, o acusa de ter sido agredida e estuprada por ele, mas diz que, ao denunciá-lo, não citou a violência sexual. “Travei ao chegar à delegacia. Era um lugar cheio de homens, eu ia falar de uma pessoa conhecida, que era deputado estadual, falar que tinha sido violentada sexualmente e me responderiam: ‘Mas ele é seu marido. Qual o problema?'”, diz.

Lira foi procurado pela reportagem para falar sobre as acusações, mas disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que “não está respondendo a qualquer veículo sobre esse assunto de ordem familiar”.

“Há falsa noção que violência sexual é parte do casamento”, diz promotora

“A maioria das mulheres entende que só há violência quando há marcas físicas, sequelas. Quanto à sexual, ainda há uma falsa noção de que faz parte do repertório do casamento e, se houver um eventual excesso, não seria realmente um estupro”, disse a promotora de Justiça de São Paulo Valéria Scarance, professora de direito da PUC-SP e especialista em violência de gênero.

Ela explica que estupro marital não chega a ser um crime. “Mas essa violência configura estupro, já previsto no Código Penal. E a pena variará de acordo com as circunstâncias”, diz Valéria, referindo-se à punição que pode ir de seis a 30 anos.

Para quem quiser se aprofundar mais sobre o tema, o livro “A Vida nunca mais será a mesma”, de Adriana Negreiros (Ed. Objetiva), traz reflexões sobre a cultura do estupro no Brasil.

Como denunciar se você for violentada por seu parceiro?

Cristina Fibe, jornalista, especialista em cobertura de gênero e colunista de Universa, aconselha, se for possível, procurar atendimento especializado, como uma delegacia da mulher ou um núcleo de atendimento à mulher. “Também dá para denunciar e procurar ajuda pelo telefone, no 180, que também conta com serviço de WhatsApp (61) 9965-65008. Em caso de emergência, pode ligar no 190, porque violência contra mulher é caso de polícia, sim”.

Fonte: Portal UOL – UNIVERSA

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