
O muro de uma residência no bairro Parque Alvorada, em Presidente Prudente, ganhou novas cores, vida e propósito. O que antes era apenas uma parede simples, agora se tornou um símbolo de conscientização e mobilização comunitária.
Alunos do curso de Enfermagem da Unoeste, orientados pelo professor doutor Eduardo Fuzetto Cazañas e acompanhados pelo artista plástico e grafiteiro João Célio da Silva Filho, realizaram uma intervenção artística que une arte urbana, educação em saúde e cidadania para chamar a atenção da população sobre a importância da prevenção à dengue.
A ação faz parte do Projeto Integrador, atividade fundamental na formação dos futuros profissionais de Enfermagem, que busca aproximar os estudantes da realidade das comunidades e promover a união entre teoria, prática, reflexão e transformação social.
Cores que educam e inspiram
A moradora Maria Rosária Simões Peruci foi quem cedeu o muro de sua casa para a ação. Moradora antiga e conhecida no bairro, ela acompanhou de perto o trabalho dos alunos e aprovou o resultado.
“Achei importante, porque sempre tem esse negócio da dengue. Eu cuido do meu quintal, mas agora quem passar por aqui vai ver a arte e lembrar de cuidar também. Já peguei dengue várias vezes, e não quero que ninguém mais passe por isso. Os alunos estão de parabéns. A arte ficou linda e com certeza vai ajudar muita gente a se lembrar de cuidar”.
A intervenção, que mistura cores vibrantes e traços expressivos, traz figuras simbólicas: o mosquito Aedes aegypti e mensagem de alerta, para convidar a população à reflexão sobre atitudes simples que podem salvar vidas.
O protagonismo dos estudantes
Os alunos do 7º termo de Enfermagem tiveram papel essencial na criação, planejamento e execução do projeto. Para chegar ao resultado final, aplicaram ferramentas de análise estratégica como o diagrama de Ishikawa e a metodologia 5W3H, instrumentos que ajudaram a identificar e compreender o problema central: a ineficácia na divulgação de informações sobre a dengue na região do Alvorada 2.
A aluna Bianca Aparecida Pereira Marcolino explicou que o trabalho foi muito além da pintura.
“O foco era a dengue, mas queríamos entender o que realmente faltava aqui no bairro. Percebemos que as pessoas sabem que a dengue existe, mas nem sempre recebem informações de forma eficaz. Então, decidimos que o projeto precisava ser visual, educativo e acessível. Além do grafite, criamos um perfil no TikTok para divulgar vídeos com informações e mostrar as ações do grupo”.
Para Bianca, a experiência representa o verdadeiro sentido da enfermagem. “A enfermagem não é só cuidar no hospital, é também educar, ouvir, orientar e sensibilizar. Aprendemos a importância da humanização e de enxergar o outro com empatia. Essa ação mostra que podemos cuidar da saúde das pessoas mesmo fora das unidades de atendimento”.
O aluno David Kaique Landim Rossi destacou o papel da prevenção como um dos eixos principais da formação em Enfermagem.
“A gente trabalha com a promoção da saúde e a prevenção de doenças. Hoje, estamos aqui pra fazer exatamente isso: conscientizar o bairro, ajudar as pessoas a se cuidarem antes que fiquem doentes. O grafite é uma forma de deixar essa mensagem visível, permanente, algo que todos podem ver e pensar sobre”.
A arte como ponte entre saúde e comunidade
O artista João Célio da Silva Filho, conhecido por suas obras em espaços públicos da cidade, celebrou a oportunidade de participar de um projeto que une arte e responsabilidade social.
“O grafite é uma linguagem poderosa, que comunica direto com o povo. A arte transforma os espaços e desperta consciência. Eu sempre digo que a arte é como um texto: ela fala, questiona e provoca reflexão. Aqui, ela está servindo como instrumento de saúde pública”.
João explicou que recebeu o convite com entusiasmo e procurou representar a mensagem dos alunos de forma criativa e impactante.
“Eles me deram liberdade para criar, mas o foco sempre foi o mesmo, alertar para o perigo do mosquito e valorizar o cuidado coletivo. A arte precisa tocar quem passa. Se uma pessoa olhar para o muro e decidir eliminar um foco de água parada, já valeu a pena”.
Educação que transforma vidas
De acordo com o professor doutor Eduardo Fuzetto Cazañas, o Projeto Integrador é um dos pilares da formação acadêmica na Unoeste. Ele reforça que a iniciativa coloca o estudante como agente ativo de transformação social.
“O aluno aprende a identificar problemas reais da comunidade, analisar causas, planejar ações e aplicar intervenções. No sétimo termo, ele já tem autonomia para gerir o projeto, articular parcerias, mobilizar moradores e desenvolver soluções concretas. O papel do professor é orientá-lo, mas quem executa é o estudante. Essa autonomia forma profissionais críticos, criativos e comprometidos com a sociedade”.
O docente destacou ainda que a dengue é um tema transversal, que vem sendo trabalhado ao longo de vários semestres em parceria com o município.
“A cada semestre, os alunos observam o contexto dos bairros e propõem ações diferentes — desde campanhas de limpeza, instalação de caçambas, até a utilização das TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação) e da arte como ferramentas educativas. O grafite no Alvorada é um exemplo de ação concreta e inovadora que une ciência, cidadania e criatividade”.



