Por Josmar Jozino
A foto tirada para a primeira via do RG de Ritcher Charles Bronson Daleffe Honório, nascido em Presidente Prudente (SP) no dia 14 de janeiro de 1973, mostrava um rosto alegre e inocente, característico das crianças.
Tempos depois, aos 21 anos, o Charles Bronson brasileiro estrearia sua carteira de identidade criminal da fase adulta. Nesta, segundo a polícia, ele não apresentava mais o semblante da infância e manifestava o desejo de matar, título de um famoso filme estrelado pelo homônimo ator estadunidense.
Charles Bronson do velho oeste paulista ganharia das forças policiais a qualificação de assassino impiedoso em 10 de janeiro de 1994. Foi quando ele matou a tiros Clodoaldo Marcelo da Silva Santos. A vítima sofreu uma emboscada.
Bronson alegou em juízo que o assassinato foi motivado por duas questões: o rival lhe devia dinheiro do financiamento de um veículo e, além disso, o ameaçava por ele manter um relacionamento amoroso com a ex-namorada de Santos.
Em 13 de setembro de 1994, Bronson também matou José Maria Cézar dos Reis e Mário do Prado Violato a tiros em Poá, no Alto Tietê, na Grande São Paulo. Novamente, o motivo alegado foi uma desavença relacionada a um veículo.
O assassino chegou a fugir na ocasião, mas não ficou muito tempo nas ruas. Acabou preso em flagrante no dia 6 de outubro de 1994, em Suzano, após roubar o Gol branco de José Yoshiaki Honda.
Policiais militares foram avisados, avistaram o carro conduzido pelo assaltante e deram início à perseguição. Charles Bronson perdeu o controle do veículo. O Gol caiu em um rio. O ladrão foi dominado, algemado e conduzido à delegacia da cidade.
Fuga e mais assaltos
A ficha criminal do preso ficava mais extensa a cada dia. O Tribunal do Júri condenou Charles Bronson a 12 anos pela morte de Clodoaldo. Pelo duplo homicídio de José Maria e Mário do Prado, ele recebeu uma pena de 30 anos. O roubo a José Honda lhe custou mais cinco anos e quatro meses de reclusão.
O assaltante ficou atrás das grades até 29 de dezembro de 1997, quando foi considerado fugitivo de um presídio de Mirandópolis (SP). No período em que permaneceu foragido, a polícia o acusou de roubar os bancos Bradesco e América do Sul, na capital, e Mercantil de Descontos, em Taubaté (SP).
Foi justamente em Taubaté, no Vale do Paraíba, no dia 5 de outubro de 1999, que Charles Bronson acabou recapturado e preso definitivamente. Desde então, ela já passou por 21 penitenciárias e três cadeias públicas do estado de São Paulo. Segundo a Justiça, Charles Bronson não parou de agir nem preso.
Em 2006, ele foi acusado por tráfico de drogas na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, um dos maiores redutos do PCC (Primeiro Comando da Capital) no sistema prisional paulista.
Em 9 de abril de 2017, ele foi novamente acusado por tráfico de drogas, dessa vez na Penitenciária 1 de Avaré, outro reduto do PCC. Charles Bronson acumulou por esse crime mais oito anos e seis meses de prisão em regime fechado.
Torturas e espancamentos
As autoridades carcerárias de São Paulo apontam Bronson como reincidente múltiplo e integrante do PCC. O preso sempre negou ser integrante de facção criminosa. De acordo com a SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária), ele cometeu 24 faltas de natureza grave nas prisões.
Uma delas aconteceu em 2 de julho de 2000, quando tentou fugir vestido de mulher na Penitenciária do Estado, no Carandiru, zona norte de São Paulo. Charles Bronson foi flagrado usando peruca, sutiã, cinto, meias e um par de sapatos femininos, saindo do Pavilhão 2 em meio às visitas. Era domingo.
Em carta escrita em 3 de novembro de 2004, em Presidente Prudente, a mãe do preso relata que o filho sofreu torturas e espancamentos nas prisões e cadeias públicas por onde passou. Ela narra que ele apanhava com barras de ferro e que jogaram até óleo quente nas costas dele.
Na correspondência, a mãe relata que o filho foi espancado em uma cadeia pública e ficou irreconhecível durante três meses, com cicatrizes na cabeça. Ela conta ainda que a aparência do preso era de monstro, com olhos vermelhos, e que ele “parecia o capeta”.
O que diz a defesa
Procurada pela reportagem, Juliana Cottini, advogada do preso, disse que o cliente está confinado há 28 anos e preenche todos os requisitos para ter a progressão ao regime semiaberto. Segundo a defensora, Charles Bronson jamais integrou facção criminosa e tem bom comportamento carcerário.
A defensora sustenta também que, computando-se o tempo de prisão cumprido, Charles Bronson “já atingiu o período necessário para ser beneficiado, o quanto antes, para um regime menos gravoso, por medida de Justiça”.
Condenado a uma pena total de 99 anos, três meses e 27 dias, Charles Bronson está recolhido na Penitenciária 1 de Avaré. Pessoas ligadas a ele afirmam que o longo tempo atrás das grades causou grande sofrimento ao prisioneiro e o deixou com sequelas.
Fonte: Josmar Jozino/Portal UOL